domingo

Depressa saio do quarto, ainda com o sono por esclarecer, ainda com a voz rouca do adormecer leve e paradisíaco e desço as escadas de madeira, penteio o cabelo de leve com a minha escova igualmente de madeira e decido fazer um rabo de cavalo, deixando a franja... Faço um risco preto nos olhos e espalho o Dove na cara, fica um cheiro a flores na pele e apetece-me sorrir... Deixo-me levar pela calma matinal a que me sujeito e saio de casa, embora me queira lembrar do que me apetece realmente fazer.
Deparo-me com a Daniela mimada, ingénua em algumas perguntas e delicada em alguns momentos. Deparo-me com a Daniela vaidosa que faz questão de pôr uns brincos para se sentir mais mulher e ainda me deparo com a Daniela parva que fica horas e horas a rir sem parar ou a dizer baboseiras.
Faceta de um crime, lado obscuro mais profundo e umas vozes a gritar deixam-me perplexa e sem sentido, um grito me vagueia e me deixa a inspirar com dôr. Tenho medo. Duma coisa. Que se chama. Medo.
Dói pensar que me sinto desencontrada do mundo no qual habito, dos pensamentos que uma menina de 17 anos deveria ter, dos luxos e da miséria com que me preencho. Não estou a dizer nada de jeito mas a vontade de escrever e de me auto-conhecer é demasiada neste momento. Não sei ao certo de onde venho mas sei finalmente quem sou. A Daniela que sempre acreditou mais no mundo irracional do que propriamente racional. A Daniela que nunca deixou de querer um verdadeiro príncipe encantado. A Daniela tola pela sua mãe. A Daniela.

mas ainda me atrevo a perguntar, quem sou eu?

quarta-feira

Sou contraditória quando me convém, mudo agora a minha vida não porque perdi o meu amor mas porque me perdi a mim. Perdi o gosto pelo que me fazia feliz e deixei que aquilo que parecia impossível se apoderasse de mim. Não, não deixei de amar o André. Em nenhum dia da minha vida. Nunca o transformei em passado mesmo quando parecia não haver outra solução. Sinto amor quando o olho e quando ( as lágrimas são mais fortes que eu, nem acredito que sobrevivi a mais uma e que me mantenho melhor amiga das letras , que saudades de te escrever, amor, que saudades de me entregar a ti no papel ).
Respirando fundo, entregando o meu diploma de tua amante á lua, vejo-te passar como um estranho pecado de viver, vejo-te passar de chapéu e com as costas abanando, vejo a passar aquele tão teu jeito de andar, demonstração de uma vida, sentimento e quotidiano. Vejo-te a passar e o teu cabelo a fazer magia - só eu sei tal cheiro e título de paixão -, vejo-te a subir e a descer, vejo-te a soletrar o meu nome em suspiros, vejo-te a mexer-me no rosto com delicadeza, as tuas mãos de anjo e o teu jeito de me tocar, parece que é uma pertença eterna, o meu corpo teu. Momentos tão intensos, os beijos parecem calmaria da noite e o mundo acaba por ser esquecido porque só existo eu e tu.

Prometo, que nunca desistirei de nós. O grande amor da minha vida? André Alves, para sempre
A confiança em ti é o que move o teu mundo, a tua traição a ti é o início da destruição de ti próprio, o amor cego corrói-te as costas e o cérebro, manda em ti como um chefe do exército e tu não passas dum pequeno soldado que não tem outra escolha se não obedecer ás ordens. Quando colas, quando amas sem olhos, quando nada mais te interessa sem ser o simples facto dessa pessoa existir. Quando te cagas para os outros e para quem sempre esteve do teu lado só porque essa pessoa existe. Quando derrubas todos os caminhos para chegar a essa pessoa, quando tomas banho e sentes a água quente correndo sobre ti para enganar a tristeza e angústia, quando colas demais e todo o teu mundo já não se conhece, o nome do teu mundo tem o nome dessa pessoa, a escrita tem um único protagonista, quando esqueces que existem mais pessoas, mais vida para além dessa pessoa. É tudo MUITO bonito, demasiado real para se acreditar no amor que se está vivendo, é tudo MUITO fantástico e nada serve de conjectura... O pior é quando acontece o funeral do amor. A tua cabeça cria uma identidade fria e destrutiva, a tua cabeça segue-se apenas pelo amor e deixa de ser auto-conhecida e aí começam os filmes, os ciúmes, as crises, o auto-sofrimento, a fraca maneira de agir e pensar, o quotidiano esquecível e preferível de não ser recordado, a paragem do teu sistema feliz e o começo do teu sistema frágil. O sentimento de culpa e de infelicidade. Pára, não és tu! Não és tu que estás a pensar, são uns pequenos e horrorosos bichos da depressão que te fazem chegar a essa conclusão. Se chegaste aqui, não esperes mais, o mundo é grande lá para fora. O mundo não pára de existir só porque essa pessoa se chateia contigo, tens vida própria para além disso, tens amigos, tens luzes e vozes, tens o sol e a praia, tens as gargalhadas, tens a mãe e o pai, tens o céu pintado de estrelas, tens outro lado da vida.
A opção és tu que a fazes: ou morres ou escolhes o caminho da salvação.

domingo


Lembro-me do dia em que te vi, do dia em que te conheci, do dia em que não te pude beijar, do dia em que te beijei. do dia em que me pude confiar a ti, do dia em que me amei a ti também, do dia em que te agarrei e beijei, do dia em que nunca te deixei. Realmente já me considero uma mulher no que toca á parte de saber amar, quero sempre mais e mais e desiludo-me com a mínima coisa que possa correr mal...

Eu sinto o amor quando te toco lentamente, ao sabor da calma e ternura e a minha mão percorre todo o teu peito, toda a tua magnificiência e tu com os olhos fechados, morto de amor e de entrega, suspiras por mais carinho e eu nunca deixo de dar... e dizes que eu sou a tua deusa, e dizes que me amas e o mundo para mim deixa de ter fim, deixa de ser mau, deixa de ter preto. Amo-te amo-te amo-teeeeeeeeeeeee

sexta-feira

Vivia naquelas ruas onde o passado ainda morava mas a vizinha tivera-me contado que ele ia emigrar e eu, discretamente sorri. Sem querer, fui dar conta dum baú cheio de felicidade, dos meus ursos de peluche, das minhas agendas que se transformavam em diário, das fotografias na praia e os castelos na areia, das cassetes do saul e da ana malhoa com o macaco buerere. Do cheiro a pequena, das missangas, dos colares semicompletos, das pulseiras amarelas e gastas.
Tinha saudades de me por á janela e gritar a minha liberdade, largar tudo e poder viver feliz. Mas - e porque é que tem de haver sempre um mas ?- a maresia estava baixa e os pássaros estavam de greve e fizeram-me recuar, ficar rouca de não gritar, sorrir sem chorar.

domingo

Até me entontecia com tantas e tantas perguntas e a realidade teimava em não aparecer, o meu sentido de mulher feliz foi posto á prova e pensei se eu era feliz. pensei se as flores cabiam todas na jarra de vidro.

 apoderou-se de toda a minha cabeça, foi como subir uma montanha velozmente e chegar ao cimo a chorar e não saber como descer, como me destapar daquele problema. Ouvia a minha ópera, cosendo o vestido das flores que rasgou e sabia que a minha cabeça tão cedo não ia estar preparada para cantar uma vitória... Mas disseram-me que tinha tempo! Vou colher um malmequer e fazer o jogo do sim e do não com a pergunta: "Devo preocupar-me mais comigo que com os outros?"

Mademoiselle Danielle

sábado


Hoje foi dia de visitar a realidade mas ela de si já tão abstracta não me abriu a porta. Fechou-ma na cara, nem deixou bater outra vez. Mas eu fiquei sentada no meu banco, a olhar os pássaros e a sussurrar baixinho o porquê de tanta confusão dentro da minha tão grande e tão pequena cabeça. Ninguém apareceu para me fazer companhia nem falar de rebuçados de sabor a framboesa... Eu lá continuei, desfazendo cada nó da minha cabeça devagarinho, dando tempo ao tempo e o meu gatinho enroscado nem se lembrava que eram horas de partir.

E eu, Danielle, ficarei á espera que aquela realidade maldita me abra a porta