domingo

Depressa saio do quarto, ainda com o sono por esclarecer, ainda com a voz rouca do adormecer leve e paradisíaco e desço as escadas de madeira, penteio o cabelo de leve com a minha escova igualmente de madeira e decido fazer um rabo de cavalo, deixando a franja... Faço um risco preto nos olhos e espalho o Dove na cara, fica um cheiro a flores na pele e apetece-me sorrir... Deixo-me levar pela calma matinal a que me sujeito e saio de casa, embora me queira lembrar do que me apetece realmente fazer.
Deparo-me com a Daniela mimada, ingénua em algumas perguntas e delicada em alguns momentos. Deparo-me com a Daniela vaidosa que faz questão de pôr uns brincos para se sentir mais mulher e ainda me deparo com a Daniela parva que fica horas e horas a rir sem parar ou a dizer baboseiras.
Faceta de um crime, lado obscuro mais profundo e umas vozes a gritar deixam-me perplexa e sem sentido, um grito me vagueia e me deixa a inspirar com dôr. Tenho medo. Duma coisa. Que se chama. Medo.
Dói pensar que me sinto desencontrada do mundo no qual habito, dos pensamentos que uma menina de 17 anos deveria ter, dos luxos e da miséria com que me preencho. Não estou a dizer nada de jeito mas a vontade de escrever e de me auto-conhecer é demasiada neste momento. Não sei ao certo de onde venho mas sei finalmente quem sou. A Daniela que sempre acreditou mais no mundo irracional do que propriamente racional. A Daniela que nunca deixou de querer um verdadeiro príncipe encantado. A Daniela tola pela sua mãe. A Daniela.

mas ainda me atrevo a perguntar, quem sou eu?

Sem comentários: